Nos últimos anos muito se falou em bullying, essa prática que se caracteriza por atos repetitivos e intencionais de agressão ao outro, seja por meio de violência física ou moral. Mas, embora o termo seja recente, a prática é antiga: pergunte aos seus pais e avós e eles provavelmente vão relatar cenas de bullying na escola deles.
Mas não é porque o tema é antigo, nem porque ele atraiu a atenção dos especialistas de educação e saúde, nos últimos anos, que se trata de um problema vencido. Os números mostram justamente o contrário: ele permanece sendo um grande desafio na sociedade.
A pesquisa “Pondo fim à tormenta: combatendo o bullying do jardim de infância ao ciberespaço”, realizada pelas Nações Unidas, em 2016, mostrou que 43% das crianças e jovens no Brasil já sofreram algum tipo de bullying por razões como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem.
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Já na Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar (PeNSE), de 2015, 7,4% dos estudantes entrevistados disseram que já se sentiram ofendidos ou humilhados. Além disso, 19,8% afirmaram que já praticaram alguma intimidação, deboche ou ofensa contra algum de seus colegas.
A verdade é que o bullying ainda é, muitas vezes, invisível, principalmente porque ele é disfarçado de piada e, em muitos casos, abafado pelo medo da vítima, que não denuncia.
Nas escolas de educação infantil o assunto merece uma atenção especial, pois o ato intencional de agressão ao outro pode ser interpretado erroneamente de acordo com a idade da criança. Há quem acredite que crianças estão imunes a isso e, por outro lado, há quem interprete qualquer reação de agressividade como bullying. Os extremos são perigosos e, por isso, é importante capacitar os professores.
Então, o que é bullying de fato?
O bullying foi definido na Lei nº 13.185, de 2016, como “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.
A definição é longa, mas em resumo a prática está relacionada a atitudes, comportamentos e falas que agridem o outro frequentemente e com a intenção de humilhar. Isso quer dizer, por exemplo, que uma situação isolada de briga em que houve agressão não pode ser encaixada na definição de bullying.
Entenda: o bullying passa, necessariamente, por uma atitude intencional do autor. Ele faz aquela mesma ação ou diz aquelas mesmas coisas com o objetivo de ferir o outro. Além disso, ele normalmente tem um público para se exibir e, em boa parte das vezes, não tem resposta da vítima.
O praticante de bullying normalmente começa muito cedo na escola. Ele faz isso para se sentir poderoso, popular e pode escolher ser escancarado com atos como xingamentos e agressões físicas ou, ainda, fazer isso de forma velada com fofocas, olhares e exclusão do outro.
Já a vítima quase sempre é uma criança retraída, com baixa autoestima. O alvo do bullying pode ser características físicas, como peso, altura, cor da pele e até deficiências, mas também questões de desenvolvimento. Um exemplo é a criança que ainda tem dificuldade de segurar cocô e xixi.
O bullying na educação infantil
Como já dissemos, a análise de existência ou não de bullying na educação infantil precisa levar em conta algumas especificidades da faixa etária. Até os dois anos, a criança ainda não tem completa noção de si mesma e do outro e, por isso, não seria capaz de ter esse nível de elaboração para, intencionalmente, causar mal ao outro.
Lembre-se: nos primeiros anos de vida, a criança está conhecendo o mundo e vivendo momentos de disputa de atenção do adulto ou posse de um brinquedo, por exemplo. Manifestações de agressividade são comuns e até necessárias para o desenvolvimento das crianças.
Mas, por volta dos 3 a 4 anos, a criança começa a desenvolver o senso do outro e aprimora suas interações sociais. Nessa fase elas podem, sim, praticar o bullying até porque já entendem os sentimentos do outro e as trocas sociais que devem fazer para manter a harmonia ou para ferir o colega.
Dessa forma, é importante que os professores estejam atentos às características de intenção do autor da agressão e de repetição dessas práticas para que o bullying seja identificado na escola o mais rápido que puder.
Como combater o bullying na escola?
O bullying pode deixar marcas profundas em uma criança se o processo não for interrompido rapidamente. Há alunos que deixam de ir à escola, outros ficam travados em seu desenvolvimento, passam a ter dificuldades de socialização e, quando levam essas marcas para a vida adulta, podem desenvolver doenças psicossomáticas.
É por isso que o primeiro dever da escola é identificar a prática de bulllying. Ele não passa despercebido aos olhos de professores atentos aos comportamentos de seus alunos. A principal dica é observar as crianças e tentar reparar se alguma delas tende a se isolar, se está deslocada das panelinhas ou, ainda, se tem alguma marca, como roxidão ou arranhões.
Se o professor reparar qualquer uma dessas condições deve conversar com a criança, deixando claro que ela está segura em sua confissão. É muito importante, também, trabalhar a autoestima dessa criança que foi vítima de bullying, valorizando suas diferenças e seus progressos.
Já com a criança que foi autora da agressão é preciso trabalhar valores básicos de respeito ao outro. O ideal é que a escola estenda esse ensinamento para toda a turma: é muito importante estimular comportamentos de generosidade, solidariedade, empatia e senso de coletividade. Dessa forma, chega-se, também, ao espectador do bullying, que muitas vezes apoia a ação de agressão ou ri dela.
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Dicas práticas para a sala de aula
Ensinar o respeito ao outro não é uma tarefa fácil e a verdade é que essa é uma missão que precisa ser compartilhada com a família. Mas, como é na escola que as crianças passam boa parte do tempo e interagem mais com seus pares, então é importante que a instituição esteja preparada para trabalhar o tema. Confira algumas dicas práticas:
Momento de leitura
Ler para as crianças é uma estratégia muito comum na educação infantil, mas a escola pode adotar um momento específico para a leitura de histórias e livros que toquem em temas como respeito, cooperação e generosidade. Depois de compartilhar a história, a professora pode pedir para que as crianças comentem e contem sobre suas próprias experiências que se assemelham àquela narrativa.
Um dia de interpretação
Usar estratégias de interpretação com teatro e fantoches, por exemplo, pode ajudar as crianças a experimentarem outros papéis e ganharem outras vozes. Isso é muito útil para ajudá-las a enxergarem além da sua própria realidade e vivenciarem outras possibilidades em um cenário de conflito, por exemplo.
Atividades cooperativas
Propor jogos e gincanas que exijam a cooperação entre as crianças pode ser uma ótima forma de trabalhar o senso de coletividade. A criança perceberá que não pode vencer sozinha e será incentivada a dialogar, negociar e trabalhar junto com os colegas para ter a recompensa que tanto deseja.
Capacitação é a palavra!
Ter professores preparados para enfrentar o bullying e outros desafios na escola depende de capacitação constante. Se você quer receber mais dos nossos conteúdos, se inscreva na nossa newsletter!